MP INVESTIGA ENVOLVIMENTO DE
COORDENADORES DO SISTEMA PENITENCIÁRIO COM TRAFICANTES; DENÚNCIAS TAMBÉM REVELAM
QUE A MAIOR FUGA DA HISTÓRIA DE ALCAÇUZ TERIA SIDO NEGLIGENCIADA PARA DERRUBAR
DIRETOR

Os nomes dos gestores delatados ao MP serão mantidos em sigilo
e só serão divulgados se forem apresentadas denúncias-crime contra os mesmos.
Entre os crimes praticados, segundo o denunciante, pelo grupo, um total de sete
pessoas, está a cobrança de até R$ 15 mil para a transferência de apenados
entre as unidades, facilitação de fugas e extorsões. “Quem paga, tem tudo o que
quer. Por isso que entram armas, aparelhos celulares e drogas nos presídios. Um
celular, dependendo do modelo, chega a custar até mil reais”, afirmou. As
denúncias foram acatadas pela promotora Maria Zélia. Entretanto, em razão da
gravidade e complexidade do tema, as investigações estão sob a responsabilidade
do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO). Ainda
segundo o agente denunciante, o que acontece dentro do sistema carcerário é
mais grave do que se imagina. “Tudo é maquiavelicamente planejado de acordo com
os interesses deste grupo”, disse ele, revelando que, até mesmo a fuga dos 41
detentos do novo pavilhão de Alcaçuz, ocorrida em janeiro deste ano - fato que
entrou para a história como a maior debandada de presos já registrada no Rio
Grande do Norte - teria sido facilitada e negligenciada pelos operadores do
esquema. “Tudo o que acontece dentro de Alcaçuz é de conhecimento dos presos do
setor médico. São apenados escolhidos a dedo e que servem como informantes. Em
troca, eles ficam soltos o dia todo e ainda recebem aparelhos celulares e comercializam
drogas livremente dentro do presídio. Mas isso tem um preço. Eles pagam
propinas para os manda-chuvas da Coape.
Não existe um valor fixo. Depende da condição financeira de cada interno”, explicou o
agente, acrescentando que o diretor de Alcaçuz, que foi exonerado no início do
ano, justamente após a escapada dos 41 presos, foi vítima de uma armação. “Ele
tinha que cair porque estava atrapalhando o esquema”, revelou o denunciante, se
referindo ao major
da PM Marcos Lisboa, que acabou exonerado na manhã seguinte
à fuga. “Quando um preso recebe uma certa quantidade de drogas, ele só pode
repassar para os outros presos se tiver a conivência dos presos que estão
soltos, que é pra poder levar a droga de um pavilhão a outro. E quem são estes
presos que ficam soltos? São os presos escolhidos dedo e que fi cam no setor médico”,
explicou o denunciante. “Não é proibido traficar dentro de Alcaçuz ou dentro
do PEP. Desde que se pague e se divida os lucros, é claro”, emendou o agente.
SUBORNO FORJADO PARA INCRIMINAR
EX-DIRETOR
“Este grupo tentou a todo custo derrubar o major Lisboa”, afirmou
o agente penitenciário que denunciou a situação dos presídios ao Ministério
Público. Porém, antes de ocorrer a fuga dos 41 presos, o agente revelou que o
plano era outro. “Eles transferiram de forma ilegal um preso que estava no PEP.
Este
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Major da PM Marcos Lisboa, ex-diretor de Alcaçuz: vítima do esquema |
preso é um traficante chamado Surfista. Ele foi infiltrado
em Alcaçuz para oferecer R$ 30 mil para o major. A ideia era forjar uma
tentativa de suborno. Caso aceitasse, tudo seria filmado. E esta prova seria
usada contra ele. A filmagem seria revelada para que Lisboa caísse”, afirmou. Acontece
que o plano falhou. Ainda segundo o agente, o diretor descobriu que a intenção
era prejudicá-lo e isolou o Surfista, colocando-o no novo pavilhão. No entanto,
não adiantou nada. “A fuga dos 41 presos foi planejada para derrubar o diretor.
Não retiro uma vírgula do que disse ao MP. Vou provar que isso aconteceu.
Foram os presos do setor médico que levaram as ferramentas para
os presos do pavilhão novo escaparem. A COAPE sabia de tudo. Sabia que lá não
tinha cadeado e deixou. Eles queriam a cabeça do major Lisboa e conseguiram”,
reafirmou.
MORTE DE EX-PM E TRANSFERÊNCIA DE
JOÃO GRANDÃO ORQUESTRADAS
A fuga histórica dos 41 apenados de Alcaçuz não foi o único
exemplo citado pelo denunciante. A morte do ex-policial militar Roberto Moura
do Nascimento, o Bebeto, assassinado a tiros dentro da mesma penitenciária -
fato que aconteceu em abril do ano passado - também teria sido orquestrada pelo
grupo que ele delatou ao MP. O objetivo, segundo revelou o agente
penitenciário, foi penalizar o também ex-PM João Maria da Costa Peixoto, o João
Grandão, que sabia das coisas que aconteciam dentro de Alcaçuz e não aceitava
ser extorquido pelo grupo. Deu certo? É o que o MP também tentará responder. O
fato é que, depois da morte de Bebeto, embora um desafeto tenha assumido o
crime, João Grandão acabou transferido para o Presídio Federal de Campo Grande,
no estado de Mato Grosso do Sul. “Armaram pra João Grandão. Foi intencional.
Transferiram um apenado conhecido como Jackson Bombado (Jackson de Oliveira Lucena)
do PEP para Alcaçuz. Eles sabiam que Jackson era inimigo mortal de Bebeto e
colocaram os dois juntos. E como Bebeto só andava armado lá dentro - arma que eles
mesmo forneceram - era uma questão de tempo que a desgraça acontecesse”,
acrescentou o denunciante.
Dito e feito. O que ocorreu depois é de conhecimento público.
Quatro dias após a chegada de Jackson Bombado a Alcaçuz, Bebeto entrou em luta
corporal com o rival. Na briga, Bombado conseguiu desarmar Bebeto e disparou
contra ele. Cinco tiros letais. Por fim, ainda de acordo com o agente
penitenciário, houve uma tentativa de incriminar João Grandão. “Queriam que
Jackson assumisse que matou Bebeto a mando de João Grandão. E também queriam
que ele dissesse que
a arma foi dada por João. Jackson não fez isso, mas João Grandão, de uma forma
ou de outra, foi transferido para o Mato Grosso do Sul”, disse o denunciante.
*Fonte: Novo Jornal
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