quarta-feira, 8 de agosto de 2012

ALCAÇUZ: CADEIA DE CORRUPÇÃO


MP INVESTIGA ENVOLVIMENTO DE COORDENADORES DO SISTEMA PENITENCIÁRIO COM TRAFICANTES; DENÚNCIAS TAMBÉM REVELAM QUE A MAIOR FUGA DA HISTÓRIA DE ALCAÇUZ TERIA SIDO NEGLIGENCIADA PARA DERRUBAR DIRETOR

A BANDA PODRE do sistema carcerário potiguar está na mira do Ministério Público Estadual. Denúncias formalizadas por meio de depoimentos e testemunhos gravados em vídeo - tudo registrado pela promotoria de Nísia Floresta – revelam a existência de um ardiloso esquema de corrupção dentro das duas maiores unidades prisionais do estado, a Penitenciária Estadual Alcaçuz e o Presídio Estadual de Parnamirim (PEP). As denúncias foram feitas por um agente penitenciário que conhece bem o sistema e que há mais de um ano afirma ter se deparado com uma série de crimes praticados pelos principais gestores da Coordenadoria de Administração Penitenciária (COAPE), órgão diretamente subordinado à Secretaria de Justiça e da Cidadania, a Sejuc. O denunciante foi ouvido com exclusividade pelo NOVO JORNAL e terá sua identidade preservada por questão de segurança. Ele teme pela própria vida e disse que resolveu procurar o Ministério Público porque estava sendo coagido e, como se negou a participar do esquema, por duas vezes tentaram incriminá-lo.
Os nomes dos gestores delatados ao MP serão mantidos em sigilo e só serão divulgados se forem apresentadas denúncias-crime contra os mesmos. Entre os crimes praticados, segundo o denunciante, pelo grupo, um total de sete pessoas, está a cobrança de até R$ 15 mil para a transferência de apenados entre as unidades, facilitação de fugas e extorsões. “Quem paga, tem tudo o que quer. Por isso que entram armas, aparelhos celulares e drogas nos presídios. Um celular, dependendo do modelo, chega a custar até mil reais”, afirmou. As denúncias foram acatadas pela promotora Maria Zélia. Entretanto, em razão da gravidade e complexidade do tema, as investigações estão sob a responsabilidade do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO). Ainda segundo o agente denunciante, o que acontece dentro do sistema carcerário é mais grave do que se imagina. “Tudo é maquiavelicamente planejado de acordo com os interesses deste grupo”, disse ele, revelando que, até mesmo a fuga dos 41 detentos do novo pavilhão de Alcaçuz, ocorrida em janeiro deste ano - fato que entrou para a história como a maior debandada de presos já registrada no Rio Grande do Norte - teria sido facilitada e negligenciada pelos operadores do esquema. “Tudo o que acontece dentro de Alcaçuz é de conhecimento dos presos do setor médico. São apenados escolhidos a dedo e que servem como informantes. Em troca, eles ficam soltos o dia todo e ainda recebem aparelhos celulares e comercializam drogas livremente dentro do presídio. Mas isso tem um preço. Eles pagam propinas para os manda-chuvas da Coape. 

Não existe um valor fixo. Depende da condição financeira de cada interno”, explicou o agente, acrescentando que o diretor de Alcaçuz, que foi exonerado no início do ano, justamente após a escapada dos 41 presos, foi vítima de uma armação. “Ele tinha que cair porque estava atrapalhando o esquema”, revelou o denunciante, se referindo ao major
da PM Marcos Lisboa, que acabou exonerado na manhã seguinte à fuga. “Quando um preso recebe uma certa quantidade de drogas, ele só pode repassar para os outros presos se tiver a conivência dos presos que estão soltos, que é pra poder levar a droga de um pavilhão a outro. E quem são estes presos que ficam soltos? São os presos escolhidos  dedo e que fi cam no setor médico”, explicou o denunciante. “Não é proibido traficar dentro de Alcaçuz ou dentro do PEP. Desde que se pague e se divida os lucros, é claro”, emendou o agente.

SUBORNO FORJADO PARA INCRIMINAR EX-DIRETOR
“Este grupo tentou a todo custo derrubar o major Lisboa”, afirmou o agente penitenciário que denunciou a situação dos presídios ao Ministério Público. Porém, antes de ocorrer a fuga dos 41 presos, o agente revelou que o plano era outro. “Eles transferiram de forma ilegal um preso que estava no PEP. Este
Major da PM Marcos Lisboa,
ex-diretor de Alcaçuz: vítima do esquema
preso é um traficante chamado Surfista. Ele foi infiltrado em Alcaçuz para oferecer R$ 30 mil para o major. A ideia era forjar uma tentativa de suborno. Caso aceitasse, tudo seria filmado. E esta prova seria usada contra ele. A filmagem seria revelada para que Lisboa caísse”, afirmou. Acontece que o plano falhou. Ainda segundo o agente, o diretor descobriu que a intenção era prejudicá-lo e isolou o Surfista, colocando-o no novo pavilhão. No entanto, não adiantou nada. “A fuga dos 41 presos foi planejada para derrubar o diretor. Não retiro uma vírgula do que disse ao MP. Vou provar que isso aconteceu.

Foram os presos do setor médico que levaram as ferramentas para os presos do pavilhão novo escaparem. A COAPE sabia de tudo. Sabia que lá não tinha cadeado e deixou. Eles queriam a cabeça do major Lisboa e conseguiram”, reafirmou.

MORTE DE EX-PM E TRANSFERÊNCIA DE JOÃO GRANDÃO ORQUESTRADAS
A fuga histórica dos 41 apenados de Alcaçuz não foi o único exemplo citado pelo denunciante. A morte do ex-policial militar Roberto Moura do Nascimento, o Bebeto, assassinado a tiros dentro da mesma penitenciária - fato que aconteceu em abril do ano passado - também teria sido orquestrada pelo grupo que ele delatou ao MP. O objetivo, segundo revelou o agente penitenciário, foi penalizar o também ex-PM João Maria da Costa Peixoto, o João Grandão, que sabia das coisas que aconteciam dentro de Alcaçuz e não aceitava ser extorquido pelo grupo. Deu certo? É o que o MP também tentará responder. O fato é que, depois da morte de Bebeto, embora um desafeto tenha assumido o crime, João Grandão acabou transferido para o Presídio Federal de Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul. “Armaram pra João Grandão. Foi intencional. Transferiram um apenado conhecido como Jackson Bombado (Jackson de Oliveira Lucena) do PEP para Alcaçuz. Eles sabiam que Jackson era inimigo mortal de Bebeto e colocaram os dois juntos. E como Bebeto só andava armado lá dentro - arma que eles mesmo forneceram - era uma questão de tempo que a desgraça acontecesse”, acrescentou o denunciante.
Dito e feito. O que ocorreu depois é de conhecimento público. Quatro dias após a chegada de Jackson Bombado a Alcaçuz, Bebeto entrou em luta corporal com o rival. Na briga, Bombado conseguiu desarmar Bebeto e disparou contra ele. Cinco tiros letais. Por fim, ainda de acordo com o agente penitenciário, houve uma tentativa de incriminar João Grandão. “Queriam que Jackson assumisse que matou Bebeto a mando de João Grandão. E também queriam
que ele dissesse que a arma foi dada por João. Jackson não fez isso, mas João Grandão, de uma forma ou de outra, foi transferido para o Mato Grosso do Sul”, disse o denunciante.
*Fonte: Novo Jornal

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